Há algum tempo precisei ler o livro
Vidas Secas para uma apresentação de literatura. Muita gente falava
" ecaaa, esse livro é horrível... os capítulos não têm continuidade". Ao contrário do que todo mundo falava, eu achei o livro ÓTIMO.
Foi daí que percebi o quanto é maravilhosa a literatura de Graciliano, com sua linguagem seca, enxuta e simples. Pois como o próprio Graciliano falou:
" A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer. "Teve partes do livro que me faziam soltar um
'pooooooorra :O'Vidas Secas é tão maravilhoso que li três vezes e baixei o filme x)
Deixo aqui vários fragmentos de Graciliano, que diga-se de passagem, são de uma profundidade incrível *---*
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" Sou um homem arrasado. Doença! Não. Gozo perfeita saúde. [...]
Até hoje, graças a Deus, nenhum médico me entrou em casa. Não tenho doença nenhuma. O que estou é velho. Cinqüenta anos pelo S. Pedro. Cinqüenta anos perdidos, cinqüenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada. Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer e dormir como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! Que porcaria! Não é bom vir diabo e levar tudo? As janelas estão fechadas. Meia-noite. Nenhum rumor na casa deserta. Levanto-me, procuro uma vela, que a luz vai apagar-se. Não tenho sono. Deitar e rolar no colchão até a madrugada, é uma tortura.
Prefiro ficar sentado, concluindo isto.
(São Bernardo)
"Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com
ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar
os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras,
não deixar vestígio de idéias obliteradas."
(Memórias do cárcere)
"E andavam para o Sul, metidos naquele sonho. Uma cidade
grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas,
aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos,
acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como
Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam
a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela.
E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria
para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória
e os dois meninos."
(Vidas secas)
"Nunca presto atenção às coisas, não sei para que diabo
quero olhos. Trancado num quarto, sapecando as pestanas
em cima de um livro, como sou vaidoso, como sou besta!
Caminhei tanto e o que fiz foi mastigar papel impresso. Idiota.
Podia estar ali a distrair-me com a fita. Depois finda a projeção,
instruir-me vendo as caras. Sou uma besta. Quando a realidade
me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba."
(Angústia)
" Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras
eram apenas palavras, reprodução imperfeita de fatos exteriores,
e as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir. Para senti-las
melhor, eu apagava as luzes, deixava que a sombra nos envolvesse até
ficarmos dois vultos indistintos na escuridão."
(São Bernardo)
"— Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
(...)
Deu estalos com os dedos. A cachorra Baleia, aos saltos, veio lamber-lhe as mãos grossas e cabeludas.
Fabiano recebeu a carícia, enterneceu-se:
— Você é um bicho, Baleia.
Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele.
E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.
A pé, não se agüentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio.
Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos - exclamações, onomatopéias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas."
(Vidas Secas)
"Ateu! não é verdade. Tenho passado a vida a criar deuses que depois morrem logo, ídolos que depois
derrubo, uma estrela no céu, algumas mulheres na terra."
(Caetés)

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Quem tiver interesse pela literatura de Graciliano, fica aqui os links para o download de Vidas Secas, um livro maravilhoso *-*
* Vidas Secas
Sinopse: Obra-prima de Graciliano Ramos, "Vidas secas" exibe o limite da incomunicabilidade e animalização do homem na família de retirantes que se desloca em movimento circular entre uma trégua e outra dada pela hostilidade da natureza.
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Beijooos
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